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terça-feira, 22 de abril de 2008

::Desrespeito com a memória da cidade::



Há mais de cinqüenta anos começamos a substituir o casario português pelos inúmeros edifícios que hoje enfeiam o centro de Porto Alegre que parece estar definitivamente condenado.

Não há esforço que viabilize o seu trânsito, que possa recuperar o que poderia ter sido do ponto de vista urbanístico, do convívio com o Guaíba e também turístico.

Possivelmente nem as autoridades tenham se preocupado com este tema e, se o fizeram, fico imaginando que naquela época poderiam achar que os prédios ali construídos não tinham nenhuma perspectiva histórica afinal ali estavam a não mais do que 50 anos.

Ainda bem que São Luís e tantas outras cidades brasileiras, hoje com o selo de históricas, não tiveram o mesmo destino que lhes sonegaria grande parcela do que arrecadam com o turismo. E as nossas autoridades teimam em querer encontrar atrações turísticas numa cidade que cada vez mais extermina o que poderia ser histórico.
Porque estou dizendo isto?

Agora chegou a vez da Caixa d’água da Praça Mafalda Veríssimo, no bairro Petrópolis. Construída há pouco mais de 60 e desativada há, no mínimo, 12 anos a caixa d’água entrou na mira das autoridades municipais. Poderiam com o mesmo recurso para colocá-la abaixo, não só preservar um monumento histórico como torná-lo um marco para a educação ambiental. Uma sugestão que circula, por exemplo, seria aproveitar o seu imenso reservatório para acumular água da chuva e irrigar os jardins da própria praça e da vizinhança.
Este episódio recorda-me outro com final lamentável.

Dirigia-me para o trabalho e fui surpreendido com a movimentação na praça da Encol. Para quem não sabe, o bairro Bela Vista há pouco mais de trinta anos era uma fazenda.

A casa que restou, encravada no que hoje é a praça, foi alvo de reintegração de posse por parte das autoridades municipais que decidiram também colocá-la abaixo justamente neste dia.
Aproximei-me e fui informado pelo gentil Procurador do município de todos os trâmites legais que haviam acompanhado a ação nos últimos sete anos. Tratava-se da casa em questão, que era de uma das famílias que capatazeavam a fazenda, antes mesmo da praça da Encol ser o espaço público que hoje conhecemos. Antecipou-me que a família havia recebido um apartamento condizente com a situação.

Manifestei então minha preocupação com a destinação histórica que o imóvel poderia receber se poupado fosse.
Histórica? Isso aí? Interpelou a jornalista do governo municipal e do contigente que se apossava do que fora privado antes de ser público.
Sim! Histórica! Só porque tinha apenas quarenta, cinquenta anos nada teria a contar? Preservando-a, em poucos anos a casa poderia contar muito do que naquele momento para a jornalista e para as autoridades municipais parecia pouco.

Não adiantou!

Um pouco da história foi dinamitado junto com a casa da Praça da Encol.
A bola da vez é agora a Caixa d’Água da Praça Mafalda Veríssimo.

A sua preservação poderá ser um marco a incentivar a memória da cidade e, se bem aproveitada, também da consciência ambiental.

Por mais singela que pareça a caixa d’água poderá resguardar um pedaço do que foi o bairro Petrópolis, a caminho da devastação patrocinada por este Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (de Desenvolvimento? Ambiental?) à semelhança do que acontece no bairro Bela Vista e por extensão em toda a cidade!
No próximo dia 25 de abril às 17 horas TODOS à praça.

Lá estaremos para dizer que podemos fazer mais pela cidade do que simplesmente apagar os vestígios de sua memória cultural.

Compareçam !

João Paulo Silveira Fagundes
Médico e Membro do Movimento Porto Alegre Vive