Antes que algum colega insista em "vampirizar e sugar" esta manifestação feita pelo conselheiro gremista, advogado Antonio Carlos Azambuja, ai vai na íntegra o pronunciamento doo mesmo em reunião do Conselho Deliberativo do Grêmio.
Posterior a esta fala do Azambuja, um colega escreveu tudo como fosse da sua autoria. Não era, não é. O que é mesmo é falta de caráter.
Fala Azambuja...
A experiência gremista, em termos de troca de Estádio, não pode ser qualificada exatamente como feliz. Cambiou a Baixada e sua área superficial – parte da mais nobre da cidade, Moinhos de Vento, o Parcão - pelo terreno da Vila Caiu do Céu,( grifo meu com ajuda do Salim Nigri- o Grêmio comprou outro terreno junto ao permutado para completar a área) , hoje bairro classe média Azenha. Este, embora evidentemente muito maior, resultou numa valia econômica ainda hoje no mínimo duvidosa em termos de atrativos de demanda imobiliária. Na época, nem se fala. Fê-lo, entregando-a sem voltas ou compensações. Nem mesmo cotejou a permuta com aquela praticada pelo Jockey Club, lindeiro lá, no acerto de saída do local que este fez com a Prefeitura, alcançando a estância urbana que possui no bairro Cristal (fragmento dela, menor, serve de leito ao maior shopping do sul do país, em construção).
O terreno do Olímpico foi pago, e muito bem pago. Sobre ele ergueu-se o estádio, construído a mil mãos, com sangue, suor e lágrimas de anônimos gremistas.
Como as Pirâmides. Sem expertises, up-grades, catering, Open Mall, Turney key Lump Sum, Performance Bond, Founderships e Naming Rights. Sem Fundo Garantidor. Sobretudo, sem benesses governamentais.
Está velho, gotejante. Obsoleto. Sujo e depreciado. O Grêmio precisa substituí-lo. E não só carece de recursos para isso, como necessita de concessões e investimentos públicos de difícil ou custoso alcance, seja para a sua reforma, seja para a alocação em outro espaço.
Enquanto isso, o co-irmão ganhou de presente a que serve de base (aterro) para o seu estádio, o qual houve com recursos do Município, Estado e União.
Vale dizer, dinheiro público. Meu, seu, nosso. Dinheiro vermelho, azul, verde, alvi-azul, auri-cerúleo, rubro-negro e por aí vai, para só ficar no futebol.
Não pagou sequer com a entrega da esplêndida área de seu antigo estádio, a dos Eucaliptos e suas acessões, situada em quarteirão inteiro da Rua Silveiro, bairro nobre Menino Deus, que explora até hoje e nela não investiu ou empreendeu sabe Deus por quê.
Deu-se ao luxo, tão grande a área recebida graciosamente, de, além dos incontáveis campos de treinamento, destinar espaços a sub-sociedades independentes, com sede própria à margem do rio (Parque Gigante) e múltiplos equipamentos de lazer, suficiente ao abrigo de todo o seu contexto de interesses sociais alternativos ao futebol, bem como o deleite de construir um centro de eventos de expressivos contornos físicos e magníficas instalações. Sem falar no Ginásio...
Agora, apresta-se a suplicar ao mesmo Poder Público mais concessões, sob a forma de deferimentos a alterações legais sobre o aproveitamento do solo que houveram com a magnanimidade e complacência do Estado. E nossa.
Mérito, contudo, mais uma vez, deles, que a tanto ousam.
Que fiquem com o Guaíba, mas nos deixem um pedaço.
O Grêmio pagou muito caro pela área do Olímpico, hoje se percebe. Entretanto, se se pode debitar tais desavisos ou distrações - quem sabe razões da época, meados do século passado - ao escasso descortínio empresarial de seus dirigentes de então, também é incontestável que, pelo patrocínio dos recursos necessários à aquisição desses bens – as áreas superficiais de ambas as agremiações – o Poder Público houve-se com parcialidade. Histórica, não dolosa, vá lá, mas nem por isso com menos parcialidade.
O Grêmio, por isso, é credor da comunidade porto-alegrense, gaúcha e brasileira. O tratamento teria que ser igualitário para todos. Ainda que confinado à nossa querência e admitida a nossa sucumbência comercial à presteza, ou esperteza, dos líderes do lado de lá.
Essa conta nunca foi apresentada ao nosso povo. Não cabe aqui culpar nossos velhos (e nem tão velhos assim) dirigentes pela ausência dessa cobrança nesse meio século de desequilíbrio. Contudo, inequívoco que tivemos, enquanto tricolores, governadores, prefeitos, deputados, vereadores às pencas (até presidentes, democráticos ou não, alguns até conselheiros de alto coturno, mas de pouco empenho), o suficiente para empolgar esse resgate nesse tempo todo. Nada foi feito, ou se foi, migalhas (Cristal) nos foram distribuídas.
E dizer que todas as conquistas patrimoniais deles, geraram-se da ação de um só e simples vereador, Ephraim Pinheiro Cabral.
Releve-se que, nessas plagas, o primeiro campeão do mundo fomos nós e essa conquista levou aos mais recônditos rincões da terra o nome Porto Alegrense, a despertar, no mínimo, curiosidade por esses confins do continente americano, ontem de aniversário. Contribuição cultural inestimável.Tudo, no entanto, que a cidade nos deu foi licença para colocar na sua entrada (terreno do Duque de Caxias) uma placa anunciando isso. Com conservação às nossas custas, está lá, há um quarto de século, curiosamente extraviada nas proximidades de Humaitá ...
Não estaria na hora, senhores conselheiros, de cobrar essa conta? E embutir nesse negócio ARENA parte desse crédito público?
Essa, a exortação: a todos aqueles gremistas que, freqüentando esta casa ou não, e que, por qualquer meio, político ou não, possam intervir nesse processo, com seu poder, talento, recursos e influências - particularmente aos integrantes dos partidos políticos e às autoridades municipais e estaduais - para que, no desenvolvimento desse Projeto ARENA, ajustem esses desvios induzindo a comunidade a que servem resgatar essa dívida.
Antonio Carlos de Azambuja
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