.

sábado, 5 de abril de 2008

:: O Catador de Sonhos::

( Geraldo Faleta entre os colegas ( turma 1991 da PUC)Artur e Fabio)
Foi um rápido olhar e detive-me para ve-lo seguir o caminho, desconfiado que pudesse ser um ladrão.
Estes tempos nos fazem preconceituosos quanto ás pessoas mal vestidas. Confesso.
Voltou-se e chamou-me pelo nome. Apresentou-se como jornalista, mostrou-me a carteira sindical profissional com registro ali por volta do número quatro mil. Uma foto onde exibia cabelos encaracolados.
A aparência atual é muito diferente. Não tem aquele brilho no olhar, os cabelos estão raspados e as roupas são modestas.
Falamos sobre futebol, contou-me a história do tio do Ronaldinho,Miquiba, que segundo ele anda juntando papéis e dizia isso porque ele próprio juntava latinhas para sobreviver.
Falamos de futebol,contou-me que trabalhou na Zero Hora e em jornais de bairro.Ficou desempregado, escreveu ao Sindicato,para a ARI e não recebeu resposta.
Perdeu a auto estima, caiu na rua e hoje não tem esperança em sair dessa vida miserável.
Imaginem , dia 24, e estava ali vivendo o meu conto de Natal, real, ao vivo.
Continuamos a conversa futebolística, comparou o futebol dos anos 80 com o praticado hoje.
Despediu-se, mas antes de ir-se convidei-o a me encontrar para tentar um trabalho para ele,algo mais digno de alguém que cursou uma faculdade e viveu dias de sonhos.
Disse-me que talvez nem saiba mais trabalhar na profissão, conhece pouco de informática, perdeu o ritmo. Talvez estivesse tentando dizer-me que a rua é o lugar dos Sem Esperança.
Não desisti e se tivermos uma nova conversa vou pedir a mais colegas que ajudemos o Geraldo- este é o seu nome.
Fui cuidadoso ao oferecer-lhe algum dinheiro, porque não pediu-me.Mas, afinal aceitou constrangido e confessou que não tinha nenhum e nem havia comido ainda naquele dia.
Não cheirava a alcool . Estava sóbrio.
Se foi. Fiquei ali pensativo, arrasado. Estava indo ao supermercado e um colega meu, jornalista, não tinha o que comer, cata latas para sobreviver.
Fiquei pensando nos meus planos aos quase 60 anos, nos meus empregos, neste blog, na minha família e no quanto a Vida foi boa comigo e que ás vezes queixo-me dela.
Foi uma porrada e ainda não me recuperei.
*** A recuperação veio depois do primeiro feriado,Natal.
Geraldo procurou-me e estou á procura de algo onde possa exercer o que saiba fazer,Jornalismo. Mostrou-me os trabalhos que fez no jornal Portal da Zona Sul. Prometemos nos reencontrar depois do segundo feriado,Ano Novo.
Temos conversado. Precisa aprender a trabalhar com informática, precisa de ajuda para comer. tenho passado-lhe alguma cesta básica periódica. está difícil, mas não é impossível parar com este sofrimento.
Então...
Mas... ainda haveria de sofrer mais.
Geraldo foi assaltado e espancado no dia do jogo Grêmio x Sapucaiense (19.03.08)
Estava catando latas, mas a Máfia da Latinha o agrediu. Não era o seu território de catação. Perdeu dinheiro e os documentos. Ficou desacordado na rua e ainda mais para baixo.
É o fim do poço para ele e acho que ainda não me dediquei o quanto deveria.
Recebi novo aviso.
Vai dar tudo certo.Porque Deus vai querer e vão ajudar-me.
Porto Alegre,26/03/08 ás 15h35
Se havia alguma dúvida a respeito deste colega o email que recebi de outro jornalista que formou-se com ele dissipou tudo.Vejam:
Desde o início desta semana, eu estava procurando um amigo de faculdade, com quem perdi contato há uns dez anos: o jornalista Geraldo Faleta. Cursamos toda a faculdade juntos, nos formamos juntos. Para tentar localizá-lo, mandei e-mails para várias redações de jornal, principalmente os jornais de bairro, nos quais, pelo que sei, o Geraldo por mais tempo trabalhou. Eu queria saber se alguém poderia me dar alguma pista a respeito do paradeiro dele. A editora do jornal CS Zona Sul, muito prestativa e gentil, lembrou-se do nome do Geraldo, mesmo não o conhecendo, pois havia lido um texto que escreveste sobre ele para um site. Ela copiou o texto, colou-o no e-mail de resposta e me enviou. Me abalei de tal forma com a situação dramática do Geraldo, que comecei a chorar.
Geraldo era um sujeito extremamente digno, de cultura geral elevada, amigão. Durante a faculdade, conheci de perto a sua história pessoal. Era filho único de pais bastante humildes - em todos os sentidos.
Portanto, prezado João, como posso fazer contato com ele? Como está a situação dele atualmente? Colocas uma data no teu texto, 24 de dezembro. É de 2007? Presumo que seja. Antes de me despedir, quero te agradecer pelo teu interesse e despreendimento em ajudá-lo. Todos os teus gestos até aqui têm sido muito nobres. Vou mobilizar nossos colegas para ajudá-lo. Grato pela atenção e aguardo retorno.
Artur Stortti Gayer, jornalista.
(*) já respondi ao Artur dando o endereço do Geraldo. e os colegas foram ao encontro dele.

Entraram no processo de ajuda:
*José Emanuel Gomes de Mattos
http://blog.emanuelmattos.com.br/
*Carmen Carlet- Ad Domum Comunicação
www.addomum.info
(*) A Carmem já conseguiu na Faculdade Monteiro Lobato o curso de Informática.
*José Nunes
(presidente do sindicato dos jornalistas RS)
*Machado Filho
*Julio Ribeiro
*Roberto Brenol Andrade, Jornal do Comércio.
*Gilberto Simões Pires
*Marco Poli
* Diego Casagrande
*Sandro Calderon
*Antônio Goulart
*Paulo Sergio Pinto
*Egon Müller E-mail: egon@egonmuller.com Fone: (54) 8128 4880
* Rogerio Mendelski
* Magda Cunha
* Araudo Ulguin- Sociedade Emanuel
Dados bancarios para os depositos:
Olyntho Chagas Filho ( dono da conta , amigão do Geraldo)
Banrisul
Agencia 0847 - Edel Trade Center
conta 08.050637.0-7