A TV Brasil e um
dogma anacrônico
Antônio Leopoldo Curi*
O argumento do governo para a criação da TV Brasil, de que o propósito é democratizar o acesso à televisão para pessoas de baixa renda, não resiste às estatísticas, à lógica e tampouco às prioridades nas áreas da educação, cultura e entretenimento.
dogma anacrônico
Antônio Leopoldo Curi*
O argumento do governo para a criação da TV Brasil, de que o propósito é democratizar o acesso à televisão para pessoas de baixa renda, não resiste às estatísticas, à lógica e tampouco às prioridades nas áreas da educação, cultura e entretenimento.
A TV aberta já se universalizou no País (98 em cada 100 brasileiros).
No tocante ao conteúdo, há a rede educativa e canais de cultura e educação, com excelentes programas. Assim, a impossibilidade de parcela expressiva da população não ter poder aquisitivo para ser cliente dos canais por assinatura jamais justificaria investimento e custeio tão grandes do governo para criar uma emissora estatal.
À questionável iniciativa — considerando-se que a comunicação “chapa branca” fere a imparcialidade e os pressupostos de liberdade e isenção das mídias no contexto da democracia — contrapõem-se as carências reais dos brasileiros quanto ao ensino e à cultura. O índice nacional da venda de livros gira em torno de dois exemplares por habitante/ano. A estatística, que já inclui os volumes do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), coloca o Brasil muito atrás do primeiro mundo e até de vizinhos latino-americanos, como a Argentina.
A comunicação gráfica, incluindo as mídias impressas, é muito mais inacessível à população de baixa renda do que a TV. Nem por isto, o governo parece preocupado em investir ainda mais no PNLD e na compra de cadernos. Em compensação, não hesita em investir vultosos recursos na criação e manutenção de uma televisão estatal, que nada acrescentará, a não ser um jornalismo e programação provavelmente sectários. Ou alguém tem a ilusão de que alguma matéria da TV Brasil abordará o “mensalão”, os “cartões corporativos” e outros temas delicados para o governo?
Enquanto são despendidos energia e dinheiro nesse projeto milionário, as escolas públicas continuam aquém da necessária democratização do ensino de qualidade, esta sim uma prioridade na educação nacional, pois é ação que realmente mudaria a vida de milhões de pessoas sem poder aquisitivo para pagar o ensino particular. E os livros? Estes, que ensinam com isenção e que podem ser lidos mais de uma vez, por numerosas pessoas, ainda não têm acesso universal no País.
Assim, parece que a criação da TV Brasil está na contramão dos interesses maiores do País, que não pode dar-se ao luxo de gastar em projetos não-prioritários, quando a educação e a cultura ainda têm graves gargalos. Esta enviesada iniciativa do Governo Lula não chega a ser tão grave quanto o fechamento autoritário de uma emissora aberta de TV por seu colega Chaves, na Venezuela, mas resvala num rançoso dogma das antigas esquerdas quanto à necessidade, quase compulsiva, de controlar os meios de comunicação.
*Antônio Leopoldo Curi é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Formulários, Documentos e Gerenciamento de Informações (Abraform)
À questionável iniciativa — considerando-se que a comunicação “chapa branca” fere a imparcialidade e os pressupostos de liberdade e isenção das mídias no contexto da democracia — contrapõem-se as carências reais dos brasileiros quanto ao ensino e à cultura. O índice nacional da venda de livros gira em torno de dois exemplares por habitante/ano. A estatística, que já inclui os volumes do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), coloca o Brasil muito atrás do primeiro mundo e até de vizinhos latino-americanos, como a Argentina.
A comunicação gráfica, incluindo as mídias impressas, é muito mais inacessível à população de baixa renda do que a TV. Nem por isto, o governo parece preocupado em investir ainda mais no PNLD e na compra de cadernos. Em compensação, não hesita em investir vultosos recursos na criação e manutenção de uma televisão estatal, que nada acrescentará, a não ser um jornalismo e programação provavelmente sectários. Ou alguém tem a ilusão de que alguma matéria da TV Brasil abordará o “mensalão”, os “cartões corporativos” e outros temas delicados para o governo?
Enquanto são despendidos energia e dinheiro nesse projeto milionário, as escolas públicas continuam aquém da necessária democratização do ensino de qualidade, esta sim uma prioridade na educação nacional, pois é ação que realmente mudaria a vida de milhões de pessoas sem poder aquisitivo para pagar o ensino particular. E os livros? Estes, que ensinam com isenção e que podem ser lidos mais de uma vez, por numerosas pessoas, ainda não têm acesso universal no País.
Assim, parece que a criação da TV Brasil está na contramão dos interesses maiores do País, que não pode dar-se ao luxo de gastar em projetos não-prioritários, quando a educação e a cultura ainda têm graves gargalos. Esta enviesada iniciativa do Governo Lula não chega a ser tão grave quanto o fechamento autoritário de uma emissora aberta de TV por seu colega Chaves, na Venezuela, mas resvala num rançoso dogma das antigas esquerdas quanto à necessidade, quase compulsiva, de controlar os meios de comunicação.
*Antônio Leopoldo Curi é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Formulários, Documentos e Gerenciamento de Informações (Abraform)