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sábado, 12 de janeiro de 2008

:: The Corporation" e o capitalismo de hoje ::


The Corporation, documentário contra empresas multinacionais, leva a pensar se o atual capitalismo triunfante é ou não invencível.
Quem não estiver feliz com o capitalismo das grandes empresas que dominam o mundo veja o documentário canadense "The Corporation". Lá, um dom Quixote sério como Noam Chomsky e um Sancho Pança gorducho como Michael Moore, além de outros idealistas, dessancam as maldades das empresas transnacionais, sua sede de lucro e expansão a qualquer custo, sua predação do meio ambiente e da super mais-valia dos salários míseros dos trabalhadores dos países periféricos. A lembrança das personagens de Cervantes não é pejorativa.
A nobreza de Dom Quixote e Sancho Pança estava em tentar enfrentar um mundo que lhes desagradava. A sua loucura era enfrentá-lo com armas antiquadas, desproporcionais ao poder e força dos gigantes reais ou imaginários que eles queriam destruir, em nome de ideais de justiça, bondade e proteção dos mais fracos ou fracas.
A força do capitalismo global de hoje nos leva a imaginar como quixotes e panças a quaisquer inconformados com a sociedade consumista, depredadora, freneticamente tecnológica, que nos suborna com novidades eletrônicas, bugiganças úteis ou inúteis, computadores avançados, tv digital, telefones celulares que fazem de tudo, até telefonar, brinquedos sofisticados, produtos transgênicos e toda a parafernália de alimentos industrializados, homogeneizados, quimicamente cancerígenos, sem gosto nem graça como um hamburguer da Mc'Donalds. As grandes corporações multinacionais se apoderaram do mundo, controlaram ou subornaram os governos, já transformaram a China no novo gigante capitalista, a troco do baixo preço das suas exportações, em que está embutida a super mais-valia da exploração dos seus trabalhadores. A acreditar na imprensa, eles estariam felizes, se fartando com a estatística dos 10% de crescimento anual.
Aqui no Brasil, Lula está feliz com o superavit primário, com o pagamento em dia dos juros estratosféricos da dívida, com o dinheiro que está sobrando no orçamento -- porque não faz investimentos, nem gasta com saúde, educação e bem estar do povo. Mas o mercado financeiro, o FMI, Bush, a TV Globo, os neoliberais estão todos muito contentes com ele, e farão tudo para reelegê-lo.
Embora o capitalismo de hoje pareça invencível, no auge da sua universalidade geográfica e da sua capilaridade social, é bom lembrar que Dom Quixote e Sancho Pança tiveram enorme influência na literatura mundial.
Os Michael Moore, Noam Chomski, os ambientalistas consequentes, os esquerdistas históricos ou novos, os românticos da inconformidade, os não escravizados pelo consumismo predador, os defensores da natureza e do planeta são uma força nova, uma consciência social e política que está emergindo das próprias contradições de crescimento da sociedade industrial e pós-industrial.
No documentário, aparece com destaque a pobre Bolívia, com seu povo valente lutando nas ruas contra a privatização da água.
Eles foram em frente, derrubaram o gringo Gonzalez de Lozada e elegeram o aimará Evo Morales. Tomara que este mantenha a coragem e dignidade, fique com o seu povo, não queira imitar o Lula, nem ser amigo de Bush e do "mercado".
Esperemos para ver.
Aliás, a decantada "privatização", intensificada na era FHC, e continuada por Lula, é apenas uma face da expansão do capitalismo como sistema. Foi erigida em fetiche ideológico pelos neoliberais, e corresponde à ânsia de lucro a qualquer custo, ao individualismo exacerbado e ao desprezo do bem público, em nome da eficiência e da selvageria do privado. A utopia da mudança é a luta cotidiana contra a rotina, contra o que parece inelutável, intransponível, mesmo que seja o sistema capitalista de produção e de vida.
Por : Mauro de Albuquerque Madeira