.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

:: O silêncio no Senado ::


Não sou o único, outros jornalistas tiveram prazer maior nesta profissão.Porém, andando por coberturas gerais na Imprensa cruzei com pessoas interessantes,inesquecíveis momentos e coberturas de algum tamanho.

Li no site da Assembléia depoimento do doutor Paulo Brossard do qual guardo pelo menos duas passagens maravilhosas.A primeira em Pelotas,eu reporter, ele candidato ao Senado, acompanhado por João Carlos Gastal ( deputado estadual ) . Pedi-lhe uma entrevista quando cruzava a Praça Cel Pedro Osório e concedeu-me sentado num dos bancos centenários da praça, tendo ás costas uma obra de Antonio Caringi em homenagem ás mães.
Começou dizendo que ali, naquele banco ,havia passado momentos agradáveis com uma namorada.Este fato jamais esqueceu e sempre que nos encontramos repito-o.Mas, sua maior contribuição a este repórter foi em Brasilia, no Congresso Nacional.
Estava lá com dificuldades naturais do profissional.Participava de coletivas e não me davam bola,nem oportunidade de perguntar.Aquilo me incomodava e confidenciei ao secretário do doutor Brossard.Adolfo, que contou ao senador.
Passam-se os dias e Brossard era a fonte mais desejada do Congresso Brasileiro.Todos os reporteres queriam falar com ele.Corredor lotado,esperando e o secretário avisa que estou ali.
Chamou-me ao gabinete e disse que só falaria para mim porque sabia que estavam me sacaneando ( claro que não falou assim!) . Ao final da entrevista,não resisti e pedi que falasse aos demais.Falou, mas antes disse que o estava fazendo porque atendia ao meu pedido.

Nunca mais fui discriminado.

Paulo Brossard é e sempre foi um homem justo.

Naquele período em que chamava o presidente Geisel de " General Presidente" sem citar-lhe o nome, seus discursos no Senado eram acompanhados de profundo silencio de todos. Foi quando realizou cinco pronunciamentos sobre O Pacote de Abril e esteve á beira da cassação.
Respeito ao tribuno, ao orador admirável, cujo comportamento quase teatral conferia-lhe um ar de artista da palavra. Metódico, extraia dos jornais, dos editoriais ,as críticas que queria fazer ao Governo.Cada palavra era uma flecha envenenada. Bons tempos ( anos 70) quando cruzava nos corredores com figuras inesquecíveis, Tancredo Neves, Thales Ramalho, Ulysses Guimarães,Jarbas Passarinho, José Bonifacio de Andrada, Magalhães Pinto , Franco Montoro, Dinarte Mariz, Nelson Carneiro, Amaral Peixoto, Petronio Portela,enfim.Estes e poucos outros eram as lideranças respeitáveis do Congresso.Se havia baixo clero a gente sabia que não mandavam nada.Hoje é diferente.Infelizmente.
O silêncio no Senado não é mais para ouvir as grandes vozes da Casa,mas calar de vergonha.