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domingo, 30 de março de 2008

:: O Catador de Sonhos -Reencontros ::






O relato que apresento aos meus amigos e amigas ,aos colegas que tem acompanhado o caso do jornalista Catador de Latas e Sonhos é feito por ex-colegas de faculdade, do Curso da Famecos PUC, turma de 1991.
Geraldo Faleta é o nome do jornalista que vive na miséria e cata latas para sobreviver.
Eis o relato do reencontro, da visita dos ex-colegas ao Geraldo.
João, estivemos lá ontem,( sábado) eu e o Fábio.
A cena, de fato, foi chocante. O Geraldo parece um mendigo, e mora como tal. Como o Fábio tem 1,86m de altura, não conseguiu ficar de pé na "casa" do Geraldo, pois o pé-direito mede menos. Além de bastante pequeno, o local é sujo, o aspecto é degradante. Quando o avistamos, duvidamos de que fosse realmente ele. Muito magro - era possante -, careca, arrastando uma perna e apoiando-se numa bengala, o rosto desfigurado. Deprimente. A parte positiva é que mantém a lucidez.
Ele nos narrou toda a sua história, o porquê de estar vivendo essa situação, etc. Deixamos um bom rancho com ele. Deve sustentá-lo por um mês, ou quase isso: de arroz e feijão a papel higiênico. Eu e minha irmã fizemos o rancho - mulher conhece cozinha básica, sabe o que rende. Ainda levei um bom prato de nhoque para ele - ontem era dia de nhoque - e sanduíches prontos. Ah, ele tem um fogão velho, disse que funciona. Então saímos com ele e lhe compramos o gás de cozinha. E ainda lhe demos mais uma grana para uma medicação que ele toma, para tratar das convulsões que já teve.
Bom, João, por todas essas, ele se emocionou muito: pelo reencontro e por saber que há pessoas - nós todos, tu também - que estão dispostas a ajudá-lo. Ficamos um bom tempo com ele.
O certo é o seguinte: não podemos parar por aí, porque essa ajuda não resolve a vida dele, é só paliativo. Vamos incrementar uma ajuda financeira, para que ele possa não só se alimentar por um tempo, mas também pegar ônibus - a condução será necessária para que possa fazer o curso de informática e, depois, trabalhar.
Outra, João: O Geraldo, mais do que deixar o buraco onde mora, tem de deixar também aquela região, que é uma biboca perdida no meio da zona rural da cidade. Ele não mora, se esconde. Para se ter acesso a ônibus, tem de se caminhar um bocado. Não é pouco, não. Em dia de chuva, aquelas estradinhas pequenas e esburacadas viram um lamaçal. Imagina sair de casa e encarar a chuvarada até o ônibus...!! E outra ainda: ele é um sujeito com certa intelecção, mas a parceria dele ali não está à sua altura. Bem pelo contrário, está muito longe. O Geraldo é de outra turma. Aquele ambiente, aposto, também o deprime. Em suma, ele precisa sair da região.
Fizemos fotos na rua, na estradinha em frente à casa dele. Só que a máquina do Fábio - longe da modernidade - é de filme. Terá que revelar o filme, depois digitalizar as fotos e repassá-las. Mas ele fará isso já no início da semana, e então te repassados. Tenho máquina digital, levaria a minha, se eu soubesse desse porém.
Vamos conseguir, João, porque time unido vence sempre.
Um fraternal abraço.
Artur Stortti Gayer.
As doações para o Geraldo, especialmente dos meus colegas jornalistas poderão ser encaminhadas para a Radio Guaiba, que farei chegar as mãos dele.
Posso dizer a voces que nunca ouvi o Geraldo queixar-se de abandono, disse-me que é o carma que está queimando, embora ande cansado.
Geraldo é inteligente, bem informado ( porque o radio não o deixa sair do Mundo), ainda lê livros que ganha, jornais que lhe dão, está antenado, mas sofre demais e este relato do Artur chocou-me porque não conhecia esta realidade do Geraldo.
Espero que alguém da PUC leia isto, que faça alguma coisa para ajuda-lo. Espero pelos jovens estudantes da Famecos, espero por esta gente de bom coração.