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sábado, 19 de janeiro de 2008

::Fronteiras Urbanas e Sociais ::




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Este é um ano de eleições municipais e estamos a poucos meses da votação.Não vejo nenhuma discussão que privilegie o debate das questões das grandes cidades, vítimas de fronteiras urbanas e sociais muito graves.
Porto Alegre, Canoas, Caxias, Pelotas, Santa Maria e Passo Fundo convivem com estas fronteiras e suas consequencias sem tomar iniciativas fortes para que diminuam as barreiras arquitetonicas e sociais entre elas.
Pobreza e riqueza estão ali a menos de 200 metros cruzando-se.
De um lado,altas cercas eletrificadas tentam proteger uma vida glamourosa de belas casas,jardins,lagos, um Mundo á parte por onde chegam conduzindo carrões. No ouro, lixo,esgoto a céu aberto,malocas, nenhum lazer,desemprego, pobreza.
Grandes vazios urbanos cercados de vilas pobres, favelas, miséria.Nestes vazios que em Porto Alegre já estiveram na mão de 15 grandes empresas e proprietários, vão transformando-se em ricos condomínios.Aos olhos dos pobres, agressivos e para esta sociedade oportunidade de bons assaltos. Reconhecendo que estas áreas deprimidas tem a maioria de moradores trabalhadoras. Nada mais.Aos olhos dos ricos tensão e vontade de retirar da paisagem aquelas vilas miseráveis e sua gente.A construção de shoppings, supermercados ajuda na concepção que a moldura do quadro da riqueza não podem ser os casebres.Leva-los para longe em novos e mlehores conjuntos habitacionais resolve em parte o problema.Além disso será preciso dotar estas áreas com lazer ,escolas e oportunidades.
Não ouço nenhum debate sobre iso.Mas publico aqui matéria do Jornal da Universidade, datada de maio de 2007 e tendo como entrevistado o professor Comin, que ha 4 anos vem sendo entrevistado por mim sobre esta pesquisa que em parte os senhores terão oportunidade de ler aqui.
JORNAL DA UFRGS- MAIO 2007
ESPECIAL

“Pobreza não é apenas insuficiência de renda. É um conjunto de privações múltiplas abaixo de patamares considerados socialmente inaceitáveis.” Quem afirma é o economista e professor da UFRGS Flávio Comim, que no mês passado(ABRIL 2007) encaminhou ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente- PNUMA- a primeira etapa da pesquisa sobre índice de pobreza e meio ambiente, encomendada pelo Programa há cerca de dois anos. Sob sua coordenação, e em parceria com a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, o grupo de pesquisadores contou com o representante inglês, Nicolas Sirven, o indiano Pushpan Kumar (Universidade de Nova Delhi) e os bolsistas Ely Mattos, Mônica Concha, Esmeralda Correa, Carla Silva e Philipe Berman, todos estudantes ligados ao Programa de Pós-graduação em Economia.

Diferente de outras investigações, a metodologia adotada pelo grupo da UFRGS, explicita que a proximidade da linha de pobreza é muito mais do que o fato de ter ou não uma renda. É também não ter saúde, educação, estar inseguro quanto ao lugar onde mora. O próprio fato de sentir-se triste, pode, conforme o indivíduo, constituir-se em indicador de pobreza. Neste sentido, Comim argumenta que para entender um indicador de pobreza e meio ambiente é preciso contar uma história. “Quando especificamos um modelo e usamos um fator de ajustamento é possível trabalhar as variáveis ambientais, vendo o grau de associação com a variável de pobreza, e assim empurrando – para cima ou para baixo – o grau de pobreza em função do meio ambiente.”

A referida investigação, coordenada pelo professor brasileiro, tem como foco países africanos. Os resultados deverão servir como fonte de consulta e estudo para subsidiar a ação de promotores de políticas públicas com vistas a reverter, tanto a situação social africana quanto a degradação ambiental de um ponto de vista integrado. Ainda neste ano, Comim e os bolsistas visitarão os países pesquisados para apresentar o resultado do trabalho e explicar como operar as equações através das quais é possível estabelecer relação quantitativa entre os índices de pobreza e as condições do meio ambiente.

A interligação é inédita, se comparada aos indicadores mundiais mais famosos como Pegada Ecológica, Universidade de Yale, Índice de Sustentabilidade Ambiental e Barômetro da Sustentabilidade. Depois de muitos estudos, os pesquisadores perceberam que em nenhum desses documentos internacionais as variáveis “falam” umas com as outras, ou seja, os indicadores sociais, os de crescimento econômico e os de degradação ambiental aparecem isolados. “O que temos é um diálogo inexistente,” ironiza Comim.

Esses dados, entretanto, aparecem expressos através de diferentes estratégias de integração, como, por exemplo, por meio de gráficos nos quais as três dimensões são representadas em um triângulo, sugerindo uma aproximação inexistente. Em outras pesquisas, reduz-se tudo a dinheiro, “monetizando as variáveis”. Mas, segundo o professor, “há coisas que não podem ser reduzidas a dinheiro”. Outra questão que ficou sem resposta foi a falta de justificativa para a escolha das variáveis e em que elas medida estão relacionadas.

De acordo com Comim, a partir dessas observações preliminares sobre a forma como o tema dos indicadores de pobreza e meio ambiente vêm sendo tratados, foi possível detectar concepções inadequadas sobre o que é sustentabilidade. “Hoje, no mundo inteiro, as pessoas falam sobre sustentabilidade com pouca clareza sobre o que realmente significa este termo.”

Para agravar a situação, meio ambiente ainda é visto como um luxo para muitos, principalmente no âmbito daqueles que têm poder decisório. “Quando os governos pensam em desenvolvimento, até consideram que é recomendável fazer uma avaliação de impacto ambiental. Só para dizer que está tudo certo. Mas, em realidade, não existe uma mecânica desses governos para melhorar o meio ambiente em face do que eles consideram desenvolvimento.”
EXEMPLO E SENSIBILIDADE
Aqui em Porto Alegre, os administradores do Terraville ( Zona Sul) resolveram antecipar-se aos problemas e criaram um programa de investimentos junto a vila pobre de assentados Chapéu do Sol.Investiram na melhoria do bairro,na construção de centro comunitário e áreas de lazer. Diminuiram a tensão entre estas duas partes da fronteira.Sabiam que se deixassem como estava certo seria que iriam acontecer assaltos aos ricos proprietarios do Terraville que passariam ali no " posto de fronteira". A partir daí o item "segurança" do condomínio cairia e com ele os preços dos terrenos e casa do Terraville.
Anteciparam-se e tiveram sensibilidade. Por sentirem nos bolsos o efeito daquela fronteira aberta.